Foram pelo menos 16 anos de baixos investimentos em infraestrutura, captação e abastecimento de água. A consequência foi a falta de água que atingiu diversos setores produtivos, entre eles, a indústria (leia Para saber mais). Praticamente metade das 5.530 fábricas instaladas na capital utilizam a água na produção. Dessas, 42,4% alegam que tiveram a produção prejudicada nas mais diversas escalas, a depender da necessidade do insumo em suas respectivas atividades. A expectativa é que a margem de lucro tenha caído em até 5%. Os dados fazem parte da Pesquisa Impacto do Racionamento de Água no Setor Industrial no Distrito Federal, desenvolvida pela Federação das Indústrias do DF (Fibra), em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-DF), e obtida com exclusividade pelo Correio.
A falta de planejamento também impactou o setor: quase 70% das indústrias não têm fontes alternativas, como o reúso. Outro dado que evidencia a dependência da água da Caesb é que apenas 6,8% fazem algum tipo de captação. A explicação da Fibra é de que a capacidade de investimento da indústria está baixa. “Nesse momento de crise econômica, a indústria não consegue. Obra de captação exige uma engenharia custosa”, analisa Jamal. Por isso, o impacto na produção. Várias regiões industriais, como SIA e Taguatinga Sul, não podem ter poços artesianos.
Perguntado se o incremento na produção de água beneficiará a indústria, o presidente da Caesb, Maurício Luduvice, destaca as soluções apresentadas pelo Executivo local. “O GDF está trabalhando para superar a crise hídrica e vamos superá-la. É questão de tempo. Atacamos os dois pilares: fizemos investimentos na produção de água e na redução das perdas. Os resultados estão sendo vistos com a recuperação dos reservatórios. Queremos superar crise hídrica o quanto antes e beneficiar a comunidade”, afirmou (leia Duas perguntas para).
Os segmentos de alimentos e bebidas são os que mais demandam entre os modelos fabris brasilienses. Em seguida, vem a construção civil. O que preocupa o setor é que não há previsão para o fim do racionamento. De 2014 a 2017, o uso de água na indústria reduz drasticamente — passou de 40,9 mil litros anuais por unidade para 26,4 mil litros. O que evidencia o desaquecimento do setor e os prejuízos da falta do insumo.
Com um dia da semana sem água, o dono de uma marmoraria no SIA, Carlos Roberto Oliveira Mourão, se adaptou: dobrou o armazenamento, recorre a um caminhão-pipa a cada 15 dias e instituiu o reúso. “Uso o caminhão-pipa porque a água da máquina que corta o mármore não precisa ser potável. Além disso, reaproveito a água da chuva”, explica. Roberto Bontempo tem uma fábrica de móveis em Taguatinga Sul. Ele reduziu o consumo em 30% ao trocar a caixa d’água por outra menor. Além disso, colocou uma garrafa pet nas descargas dos oito banheiros da empresa. “Não senti a crise hídrica, e a minha produção não foi afetada. Comecei as medidas antes do racionamento”, comenta.
Desde 1999, a marmoraria de Redelvino Júnior tem sistema de reaproveitamento. O dispositivo capta água que cai do maquinário, encaminha para caixas de tratamento e conduz até o reservatório, de 10 mil litros. Segundo ele, o reaproveitamento chega a 90%. “As máquinas que cortam o mármore precisam utilizar água para resfriar o material e impedir que a poeira se alastre. Com isso, usamos cerca de 9 mil litros de água por hora”, diz. Com o início do racionamento, o empresário optou pela limpeza a seco, instalou uma caixa d’água para os funcionários e passou a lavar veículos mensalmente.