O uso do vidro nas fachadas dos edifícios está cada vez mais em alta. Grandes torres ou até mesmo residências quase que totalmente envidraçadas nos atraem, pois proporcionam sensação de amplitude, de infinito, dando a impressão de que os espaços internos são maiores, prolongando-se pelas vistas.
Sem dúvida, fica lindo. Mas há alguns fatores que devem ser levados em consideração. O primeiro é o conforto térmico, pois caso não sejam um dos chamados “vidros inteligentes ou de alta performance”, eles podem aquecer demais no verão, aumentando a necessidade do uso de condicionadores de ar e esfriar demais no inverno.
Mas, hoje, o foco deste artigo está nos pássaros. Eles enxergam estas grandes fachadas envidraçadas, ainda mais quando espelhadas, como a continuação do céu para voar e para onde mergulham e acabam sofrendo o impacto, muitas vezes, resultando em morte. Outras vezes, ao enxergarem o próprio reflexo nas grandes superfícies espelhadas, atacam a superfície, como se fosse um inimigo, também resultando em danos graves.
Estima-se que até um bilhão de pássaros morrem por ano nos Estados Unidos ao impactarem em janelas e paredes de vidro, tornando os edifícios a maior ameaça existente a eles. O dano é tão grande que hoje já consta na certificação LEED, como crédito piloto 55, a diminuição dos impactos dos pássaros nas edificações, criado para tentar reduzir esta mortalidade.
Para este crédito existem algumas exigências, como a seguir:
Atender as solicitações referentes à fachada e estruturas do terreno, iluminação externa e um plano de monitoramento contínuo, como abaixo:
Fachada do prédio e estruturas do terreno
Desenvolver uma estratégia de desenho da fachada do prédio e estruturas do terreno que se tornem visíveis e barreiras físicas para os pássaros.
Se todos os materiais das fachadas do prédio tiverem um fator de ameaça 15 ou menor, o prédio está isento dos requerimentos para as fachadas do prédio e os cálculos de ameaça para colisão não são necessários. Se qualquer material das fachadas do prédio tiver um fator de ameaça à colisão de pássaros acima de 15, então os cálculos são requeridos.
As demais estruturas no terreno, incluindo, mas não se limitando a guarda corpos, telas de vento, gazebos, cercas de proteção das piscinas, abrigos de ônibus, devem ser construídos com materiais com um fator de ameaça menor do que 15.
E na sequência fornece os passos para estes cálculos:
Primeiro, dividir cada fachada do prédio em fachada zona 1 e fachada zona 2.
Fachada zona 1 inclui os primeiros 11 metros acima do nível do terreno em todos os pontos do PNT e também 3,7m acima de qualquer telhado vegetado. A zona 2 inclui todas as áreas acima de 11m do PNT.
Depois identificar cada material e a área total de cada material para cada zona.
Não mais do que 15% da área de fachada da zona 1 pode ter um fator de ameaça maior que 75. Esta área é quantificada separadamente como fator de perigo de área envidraçada na calculadora. No entanto, mais de 15% da área envidraçada da zona 2 pode ter um fator maior que 75. Todos os cantos envidraçados ou em zona de voo devem ter um fator de ameaça menor ou igual a 25.
Tipos Gerais de Material: potencial de ameaça em ordem decrescente:
Tipos de Materiais
Maior potencial de ameaça
Vidro: Vidro altamente refletivo ou completamente transparente
Vidro: Estrutura refletiva ou transparente interrompida por um padrão baseada na regra 2×4
Vidro: Superfícies refletivas ou transparentes protegidas por telas, persianas ou brises, em que o vidro exposto resultante satisfaça a regra de 2×4
Vidro: Translúcido com superfícies opacas ou texturizadas
Menor potencial de ameaça
Superfícies opacas
• A regra 2 x 4 é definida no módulo de dissuasão de colisão baseado no perfil físico de um pássaro em voo. Uma pesquisa recente definiu um módulo máximo de 5 cm de altura por 10 cm de largura.
Iluminação exterior
Luzes externas do prédio que não sejam para segurança, entrada do prédio e circulação, devem ser automaticamente desligadas da meia noite às 6 da manhã. Caso seja necessário usar estas áreas fora destes períodos, estes sistemas devem poder ser ligados manualmente.
Mas mesmo sem optar por certificar a edificação como LEED nem optar por atender este crédito mesmo se estiver certificando LEED, existem algumas soluções que podem diminuir este problema, como por exemplo, plantar árvores altas para que o pássaro as enxergue como barreiras, não voando em direção à edificação.
Há, ainda, no mercado algumas soluções consideradas amigáveis aos pássaros pelo American Bird Conservancy (Órgão de proteção dos pássaros). Já foram desenvolvidos vidros comum tratamento invisível aos nossos olhos, mas que os pássaros enxergam como se fosse uma teia e, consequentemente, tornam-se um obstáculo. Algumas películas aplicadas da forma correta podem ter o mesmo papel, caso o vidro esteja fora de questão. Hoje em dia é importado da Alemanha.
Outra técnica que pode funcionar é aplicar adesivos com sombras simulando pássaros grandes em voo. Os pássaros menores temem o ataque e evitam o percurso.
Estas medidas podem diminuir as fatalidades, mas não garantem que parem totalmente. Qualquer barreira visual, seja película, jateamento, tratamento com ácido, pode ajudar na diminuição destes impactos, mas não garante que pare totalmente, depende da localização, espécies de pássaros, orientação, reflexos do sol, local onde os pássaros buscam alimentos, rotas de voo, etc.
Sempre que um edifício é projetado é importante pensar nisto também: sustentabilidade não é só conservar água, energia e materiais, mas é também interferir o mínimo possível na natureza, e se possível ainda deixando um impacto positivo.
Adriana Noya, Arquiteta e LEED AP BD+C – Arquiteta, Urbanista e Designer de interiores ,com ampla experiência em projetos residenciais, comerciais e corporativos.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/10/2017